
As igrejas devem exercer alguma influência na política? Pastores devem pregar sobre temas políticos? Existe somente um posicionamento “cristão” em relação a questões políticas? A Bíblia traz algum ensinamento a respeito de como as pessoas devem votar? Essas são as perguntas que estão no topo da contracapa do livro Política Segundo a Bíblia, de Wayne Grudem.
No momento em que escrevo essas palavras (Novembro de 2022) estamos vivendo um momento de muita tensão aqui no Brasil. Acabamos de passar pelo período de eleições e as pessoas estão expondo suas ideias políticas com convicções cada vez mais evidentes.
Recentemente, vi um vídeo de crianças que não tinham mais de 5 anos de idade falando o que pensavam a respeito de candidatos à presidência. Com essa idade, eu sequer sabia o que era política, eleições e coisas do tipo, mas hoje vivemos no mundo da informação, onde basta uma pergunta ao Google que logo recebemos todo tipo de informações e respostas possíveis. E está lá, ao alcance de todos, à distância de um clique.
Diante disso, é triste ver como as pessoas estão se perdendo em meio a tanta bagunça política. Discussões calorosas inundam as redes sociais, brigas entre amigos e familiares, pessoas que se tornaram especialistas no assunto da noite para o dia, e por aí vai.
Num momento tão delicado, com ânimos tão alterados por todos os lados, o livro Política Segundo a Bíblia foi uma leitura que me fez pensar a respeito do tema com muito mais tranquilidade e de modo muito sadio, fazendo novas perspectivas surgirem ao esclarecer o papel e posicionamento da igreja sobre um assunto tão espinhoso.
Política Segundo a Bíblia, publicado pelas Edições Vida Nova, com 191 páginas, é uma edição parcial de uma obra completa sobre o tema, que tem cerca de 600 páginas. Sendo americano, na obra original Wayne Grudem fala muito de assuntos relacionados ao contexto político norte-americano em que vive. A edição publicada no Brasil é a primeira parte da edição original, trazendo fundamentos políticos à luz da Palavra de Deus, princípios que todo cristão deve conhecer, independente de sua nacionalidade.
Franklin Ferreira diz que esse livro deve estimular o leitor a engajar-se no debate sobre o que a Bíblia ensina a respeito da relação entre o cristão e o Estado, e os desdobramentos éticos que surgem a partir daí, e trabalhar para “formular respostas radicalmente bíblicas às questões levantadas, de acordo com o contexto brasileiro”.
Sobre suas intenções, Wayne Grudem diz:
“Escrevi este livro porque tenho a convicção de que Deus pretendia que a Bíblia oferecesse orientação para todas as áreas da vida, inclusive no tocante ao modo como os governos devem atuar!” (p. 15)
Mais adiante ele continua:
“Meu propósito central na presente obra não é ser liberal ou conservador, democrata ou republicano, mas apresentar uma cosmovisão e uma perspectiva bíblicas sobre questões de política, lei e governo.” (p. 16)
Considerando o tema, as motivações e propósitos do autor, não é difícil concluir que este é um livro direcionado a todas as pessoas que desejam ordem e progresso, com uma sociedade próspera, agradável e produtiva, com menos criminalidade, mais liberdade e felicidade ao viver de acordo com a Palavra de Deus.
“Os princípios e ensinamentos da Bíblia contêm sabedoria proveitosa para todas as nações e para todos os governos. Portanto, procurei ter em mente que pessoas de outros países talvez leiam este livro e o considerem útil para a formulação de seus próprios posicionamentos quanto às questões políticas com que se deparam em suas nações.” (p. 19)
O primeiro capítulo é dedicado a descrever 5 visões a respeito do cristianismo e governo. De acordo com o autor, essas visões são claramente equivocadas e prejudiciais.
- O primeiro ponto de vista equivocado é a visão de que o governo civil deve obrigar as pessoas a apoiar ou seguir determinada religião.
- A segunda visão incorreta defende a ideia de que o governo deve excluir a religião. Lugar de crença religiosa é em casa e deve ser praticada discretamente.
- A terceira visão equivocada alega que todos os governos são perversos e demoníacos.
- A quarta visão argumenta que a igreja deve se dedicar ao evangelismo, e não à política.
- Por último, a quinta visão inapropriada declara que a igreja deve se dedicar ao evangelismo, e não à política.
Wayne Grudem apresenta diversos argumentos defendendo os motivos pelos quais ele acredita que cada uma dessas visões são incorretas, sempre tendo os ensinamentos bíblicos como fundamento.
No segundo capítulo, o autor propõe uma alternativa melhor às 5 visões anteriores: uma influência cristã expressiva sobre o governo civil. O cristão deve procurar influenciar o governo civil conforme os padrões morais de Deus e conforme os propósitos de Deus para o governo revelados na Bíblia. São citados diversos exemplos do Antigo e do Novo Testamento de como essa influência pode e deve ser exercida.
O que a Bíblia como um todo ensina a respeito do governo civil? Qual é a origem do conceito de governo? Qual deve ser a finalidade do governo? De que maneira devem-se escolher os governos? Qual é o melhor tipo de governo? Quais são as responsabilidades dos governantes? Essas são algumas perguntas que o autor responde no terceiro capítulo.
O quarto e último capítulo apresenta ao leitor a importância de começar suas reflexões e iniciar a tomada de decisões políticas a partir de uma cosmovisão bíblica, de princípios básicos da fé, verdades fundamentais a respeito de Deus e de sua relação com o mundo. Diante disso, esta edição parcial do livro é concluída refletindo acerca de fé, obras e confiança em Deus ao trabalhar na política e no governo, mostrando como o cristão deve se portar sua vida toda: sempre confiando em Deus e também obedecendo a ele, numa vida repleta de “boas-obras” (Efésios 2.10).
Uma das coisas que, talvez, Wayne Grudem pudesse ter dado um pouco mais de atenção diz respeito ao fato de que as pessoas precisam entender bem o que significa a Igreja exercer certa influência política e não deixar que a política exerça influência na Igreja. São coisas bem diferentes e devem ser esclarecidas.
Infelizmente, vemos com certa frequência alguns políticos pervertendo a reunião dos santos, transformando o púlpito em palanque e os cultos em comícios. As pessoas perderam de vista a maneira correta de ser uma boa influência na política e deixaram que políticos tornem-se uma péssima influência para a Igreja.
Por isso esse livro é tão importante. Ele ajuda a resgatar uma visão política sadia por parte dos cristãos, mostrando como deve acontecer o relacionamento entre Igreja e Estado, à luz da Bíblia, de modo que os governantes sejam devidamente cobrados para que exerçam suas funções não de acordo com seus próprios interesses, mas de acordo com a vontade de Deus, honrando a Ele em todo momento e servindo às pessoas de maneira digna.
Política Segundo a Bíblia é um bom livro e, apesar de ter algumas poucas opiniões pessoais do autor acerca de alguns assuntos, ainda assim é essencial e indico como uma leitura introdutória sobre política e cosmovisão cristã. Certamente, assim como eu, muitas pessoas têm muito a aprender com o vasto conhecimento que Wayne Grudem tem e compartilha de forma clara e coesa neste livro. Se você deseja aprender mais sobre o tema, recomendo a leitura.
Se quiser adquirir o livro, clique aqui.
Deixe um comentário